Tuesday, September 20, 2011

Saudades de Vontades

Há dias que nos fazem revoltar a visão que temos da vida, os dogmas enigmáticos sem rede, as vontades seguríssimas e determinantes que num minuto desaparecem... em suma, a relativização das nossas determinações que de extremamente alicerçadas passam a meros devaneios do passado.
Ora bem, li recentemente um blog muito interessante de uma pessoa "good girls go to heaven, bad girls go everywhere" que não aceita comentários aos seus posts. À primeira vista é legítimo pensar "ora bem, gosta de falar sozinha", mas de facto não tenho nada esse entendimento. A vantagem destas coisas, blogs, é de facto a liberdade de escolha, o livre arbítrio e, porque não dizer, o "quero que a minha vida me corra e que a dos outros se f&%$%#". Não será num senti prejurativo, a expressão, mas de facto entendo perfeitamente. Há dias em que não quero saber, nem mesmo o que acontece no ceio do meu espectacular lar, da minha fêmea (sem sentido prejurativo, mas com muito amor... afinal ela chama-me macho) do meu candido e único parente canino, nem da mota, nem dos carros, nem da equipa que lidero, nem das suas famílias, nem da minha família, nem de nada... Há dias que por razão nenhuma se tornam diferentes... são aqueles dias que mais tarde, "qui sá", nos vão ficar marcados na memória, não se vão desvanecer, dias que ao olhar para trás poderemos pensar "ai e se"... agora digo "ai se" o caralho, não há ai nem meio ai, há o que aconteceu, o que fiz, o que não fiz, há o que sucedeu a essas causas e o que ficou como consequência da mesmas. "Não tenho saudade", dizia essa mesma  menina no seu blog. Nunca li um texto que de tão simples e honesto me fizesse pensar que de facto "eu também sou assim". Não tenho saudade do passado, não sou saudosista, conheço muita grande parte deste mundo (felizmente, tive e tenho essa sorte em trabalho, em lazer, em loucura, em turismo, em fetiche, em desespero, etc, etc) mas realmente não tenho saudade... tenho, eventualmente, vontade de voltar, tenho histórias "marcadas na face", tenho angústias do que poderia ter feito, mas, acima de tudo, tenho um sorriso pousado nos lábios quando me lembro de destinos, de pessoas, de amantes, namoradas, amigos e amigas, paisagens e tudo e tudo. Tenho saudade de sensações, não de locais ou pessoas. Tenho saudades do primeiro mergulho de apneia sozinho no mar de inverno e depois de verão, mas também tenho saudades das manhãs com amigos a mergulhar, da primeira vez que conduzi um porsche e uma VFR, depois a CBF que comprei, do Jaguar no UK que dava 230 sem me aperceber, mas também das mãos da minha avó, enrugadas, do beijo do meu avô que nunca eu me permitiria comprimentar de outra forma. Tenho saudades da alegria dos meus tios e tias paternos que vêem em mim o olhar, o feitio do meu pai, da minha mãe ao ver-me chegar da diáspora e ver que agora sim, encontrei o meu caminho, da minha irmã que não o demonstra, mas que ambos sabemos que, não, a nossa cumplicidade nunca terá paralelo, mesmo que não falemos muito... dos meus sogros ao ver a felicidade que consigo dar à sua filha e que ela me dá a mim, da alegria do meu cão ao ver-me todos os dias. Não tenho saudades, tenho memória de sentimentos. Tenho noção de que sou aquilo pelo que passei. Não tenho saudades, tenho vontade de viver mais...
Mas minto. Tenho saudades do meu pai. Tenho saudades porque nunca tive tempo de o conhecer quando eu já era homem. Não sinto a sua falta, mas sinto que me fez e faz falta. No fundo, no fundo, acho que tenho saudades daquilo que poderia ser a minha vida se ele não tivesse morrido quando eu tinha 13 anos.
Há dias em que tenho saudades de mim mesmo... há outros em que tenho saudades de não ter vontades.

corre bem vida... ou é mais ou menos?

A relatividade da vida (dizia o outro) realmente é uma parvalhona!
Vejamos: vai-me bem a vida, dois anos de casado, feliz (sim sem tangas e já com 34 anos), projectos a consolidarem-se, casa em Inglaterra, casa em Portugal, carros pagos, tudo, tudo apenas com o nosso esforço (meu e da mais que tudo)... Vem a ambição da minha gaja (não gosta de esposa, não me apetece chamar mulher) e pimba, tem um bom emprego, mas quer mais - porque realmente tem capacidade e merece mais. De qualquer forma, numa boa situação de vida, com bons ordenados e as características posteriormente referidas, e PIMBA vem a caralha da Relatividade. Pois é. Estamos bem, mas ela não está assim tão bem porque quer mais, como quer mais torna-se relativa a situação presente. tornando-se relativa, tudo se torna menos claro, com dias de claridade, outros cinzentos, resultando numa média estritamente calculada pelas regras da estupidez, que resulta então numa média "mais ou menos". Mais ou menos o caraças, até porque confesso que sou materialista, mas tenho um ego e consciência que raios me partam me puxa sempre para esta merda da mente e de pensar nas coisas e não estar satisfeito. Como somos realmente metade da mesma cara (um da do outro) é impossível estar "top" se outro está "medium" e assim sendo, chiça que um gajo nunca está bem! Isto tudo para concluir que a Relatividade das coisas não passa da estupidez da mente humana... mais valia um gajo ser bicho porque assim pinava-se à bruta, a monogamia era algo de desconhecido, a Relatividade não chateava, o dinheiro nem existia, e um gajo, bom, qualquer um ou uma apenas tinha de morrer quando estava "mais ou menos", ou seja, sem comer.
Eu sei que isto não faz grande sentido, mas facto é que para além de relativizarmos tudo o que fazemos, de pensarmos que "the grass is greener on the other side", facto é que permanecemos na inconstante leveza da satisfação que se revela sempre na Relatividade do insatisfeito...